29 de jan. de 2006

A camponesa e o cavaleiro

O Amor é uma causa perdida.

E Ana sabia disso. Não procurava mais. Nas planícies do reino de Netius, ela havia desistido e passara a viver simplesmente. Camponesa, com o tipo físico característico. Era um pouco mais do que as moças ao seu redor, porque estudar as Artes de Cura. Não chegava a ser uma bruxa, mas possuia algumas poucas habilidades. Virara a curandeira de seu lugar.

Foi por isso que a chamaram ao encontrar o jovem cavaleiro caído na floresta. Apesar de ferido, não deixou que visse o seu rosto.

- Melhor não... para nós dois.

Relutante, concordou. Ele ficou com o elmo até ser levado a uma das cabanas, onde na penumbra sentiu-se confortável para o retirar. Ana não conseguiu sequer adivinhar os contornos de sua face, mas pouco importava. Tratou da perna quebrada e das escoriações nos braços e abdomen. Cantava baixinho, até o estranho elogiar sua voz. Encabulada parou.

- Não pare, por favor.

Recolhendo suas coisas, apenas murmurou.

- Já terminei. Preciso cuidar do resto dos meus afazeres.

- E o seu nome?

Na porta, saindo na penumbra, ela apenas respondeu em um sussurro.

- Ana.

Os dias transcorreram em uma nova rotina. Boa parte do tempo, a camponesa passava com o estranho. A perna causava preocupação, já que a queda do cavalo fora em alta velocidade. A intimidade surgiu entre ambos. O rapaz disse chamar-se Onaimar, filho de nobres pouco importantes de uma terra próxima. Sem esperanças de melhorar de vida, decidira-se tornar um cavaleiro andante, enfrentando perigos e torneios.

Sua alma não era de um guerreiro. Foi o que a moça descobriu, ao conversar seguidamente com ele. Era um poeta, alguém gentil e sensível. Passaram tardes inteiras apenas para discorrer sobre as mudanças de tempo e sua influência na poesia. Pois a magia era feita em versos, e Ana, apesar de não ser muito versada, gostava. Conseguia acompanhar as exposições, em pouco tempo, debatia as proposições de seu companheiro.

Ele acabara revelando o rosto, sereno, feições tranquilas. O cavaleiro já não estava ferido, mas permanecia por ali. Ana retomou as demais atividades, porém à noite ia servir o jantar ao seu convidado. E continuavam a conversar. Já não imaginavam uma vida sem o outro.

Uma coisa intrigava Ana. Desde que se recuperara, o jovem todos os dias enviava uma mensagem, que era respondida logo.

Um dia, ele explicou.

- É assim que a vida de um cavaleiro funciona, minha querida. Preciso saber dos torneios e dos passos. Aliás, semana que vem terá um perto daqui. Terei que ir, pois faz tempo que não participo. Prometo que volto, assim que tiver ganho.

Simplesmente sorriu. Mesmo tendo ouvido histórias similares, sabendo que dificilmente ele retornaria, acreditou.

Semanas passaram-se... Sequer notícias de Onaimar, e ela estava pensando em ir até a cidade onde fora o passo. Um mercador, passando pela aldeia, quebrara o braço. Em pagamento pela cura, iria conduzi-la.

Não foi necessario. Ao fazer o curativo, explicara que ia procurar um rapaz que combatera no torneio. O comerciante, na inocência que o não saber traz, comentou animado.

- Sim, o torneio. Um jovem cavaleiro destacou-se. Filho de um baronete qualquer, com um porte de armas fabuloso. Que justas! A senhorita precisava ver... e a jovem princesa ficou absolutamente encantada. Os olhos verdes dela brilhavam como esmeraldas. Fez questão de recompensar o vencedor.

O coração dela parecia ter ido para outro lugar, fugindo do peito. Sem notar, ele prosseguiu.

- Tanto fez, mas tanto tentou que o rapaz casou com ela. Quer dizer, ele não relutou muito. A príncipio, disse ter alguém em seu coração, essas baboseiras. Mas como resistir a uma princesa? Puxa, quase uma deusa...loura, alta, olhos verdes, porte nobre, belas roupas. Fizeram um belo par, sabe? O futuro casal governante do reino. Rei Onaimar e Rainha Gia.

O sorriso não morreu. Ela recusou o oferecimento da condução alegando ter doentes a cuidar.

Olhou a carroça afastar-se.

O Amor era uma causa perdida. Ana sabia disso. Como podia querer competir com uma princesa, imagem dos deuses? Ela? Camponesa, mãos grandes, pele curtida ao sol. Cabelos de um louro baço, sujo, de ficar ao tempo. Corpo de quem precisava aguentar o trabalho de muitos dias, sólido, compacto, largo.

Como o culpar por ter escolhido uma silfide, esguia, cabelos como a luz do sol, olhos de esmeraldas, porte e figura de rainha-governante?

Por mais que amasse as causas perdidas, essa era demais mesmo para ela. Não chorou, como um soldado não chora ao deixar o campo de batalha. Entrou em sua cabana e voltou a viver do jeito que sempre vivera.

28 de jan. de 2006

As pequenas gotas de Júpiter (Mini Musical)

Base Estelar Luna 1 – Aposentos 1145 – KM
25 de Abril de 2125, 50o. Da Exploração

Julian,

Meu querido amigo…

Recebi sua última comunicação. Estou feliz por saber que decidiu casar-se com Alanna. Sinceramente. Acho que você tinha toda a razão. Ainda gosto...não, ainda amo você, como naquele dia em que nos despedimos na Base Estelar, quando finalmente confessei meus sentimentos e a minha vontade de ser sua mulher. Você disse que também gostava de mim, mas a distância entre a Terra e Júpiter impediria, que não deveriamos canalizar sentimentos em rótulos. Quando eu voltasse, veriamos.

E agora estou de volta à atmosfera artificial da Base, depois de ter ido às luas de Júpiter. Foi uma viagem longa, onde conheci minha alma. Onde eu vi o que tinha perdido.

Não poderia imaginar uma vida sem galinha frita nos imensos baldes que dividiamos nos sábados a tarde, na frente da holo-visão. Ou em que não existissem nossas conversas de cinco horas de holo-fone, quando você foi estudar Tecnologia Espacial, e aquele café com leite de soja na Cafeteria da sua universidade, o melhor latte que eu já tive...Em que não tivessemos dançado juntos pela primeira vez, no final dos Estudos Elementares.

Sem amor, orgulho...ou meu melhor amigo, sempre ao meu lado, mesmo sabendo que eu estava errada.

E ela existe. Não vale o esforço, mas existe.

Os ventos de Júpiter tiraram-me dos meus pés. Flutuei por longos minutos, dançando no dia difuso formado pela claridade de suas luas. Minha cabeça voltada para a Via Láctea, naveguei por detrás do Sol, vi as luzes que se apagavam. E você estava certo. O céu é superestimado.

Não, não acho que você seja um covarde, com tanto medo de voar que jamais se atreveria a pousar e depois decolar de novo. Você fez a escolha certa. Para que uns possam ir, outros precisam ficar no solo.

Ouvi durante toda a viagem o holo-disco com obras escolhidas de Mozart...lembrando de você. E vou responder as suas duas últimas perguntas.

Senti sua falta, lá fora, procurando por mim mesma... A sua ausência fez-me perceber o quanto eu estava sozinha... o quanto eu precisava de você.

Quinze anos. E ainda lembro do seu sorriso quando voltei do treinamento na Lua, dizendo que eu havia trocado as estações, agindo como o Verão, caminhando como a chuva... ouvindo como a Primavera e falando como Junho.

Dentro de uma semana, iremos partir para a Nuvem de Magalhães. Uma nova galáxia, onde eu poderei dançar de novo. Amo mover o corpo com a música, pois cada passo traz um pouco do que vivemos de volta para mim, do momento da primeira dança e do único beijo. Que carregarei comigo para outra galáxia comigo, junto com as gotas de Júpiter que trouxe como presente...e prova do meu amor.

Porém, agora tem a Alanna. E digo. Sejam felizes. Sempre que eu olhar na direção do Sol, pensarei em vocês.

Sempre sua,

Karmina.

21 de jan. de 2006

Brinde

Brindemos aos deuses do amor, que nos deixam loucos
E aos deuses da loucura, que nos conduzem ao amor.

Encharquemos nossas gargantas secas com as lágrimas dos que sofrem
E sequemos os restos de nossa libido solta com papéis de perdão.

Inutilizemos o mundo!

Brindemos, vamos, brindemos!

Tragamos ao mundo insano o amor, ao mundo amado a insanidade.

Enlouqueceremos quem ama.
Amaremos quem enlouquece.

Andem, brindemos!

Um copo de cerveja amarga, uma taça de vinho doce.
O travo azedo da desilusão, a euforia enjoativa da paixão.

Porque não brindam comigo?

Comemoremos!
Todos os que amam, sem esperança!
Todos os que esperam, sem amor!
Os loucos que amam. Os amores que enlouquecem.

Quebremos os vidros, vertamos os liquidos!

COMEMOREMOS!

Deixemos a bebida tirar nossos sentidos...

Para que possamos esquecer.
Definitivamente.
O amor que enlouquece.

2 de jan. de 2006

Resoluções de Ano Novo

1- Acabar de vez com o blog pessoal
2- Cuidar mais de mim
3- Ter mais contato com meus amigos
4- Ter mais disciplina de trabalho
5- Ouvir músicas que eu goste sempre
6- Jogar mais RPG
7- Atualizar o Canto de luar com mais frequencia
8- Não deixar as pequenas coisas me derrubarem. E nem as grandes e feias
9- Preparar tudo pra finalmente largar o ninho

10 - Ser feliz, e essa é a unica que não posso deixar de cumprir.