16 de mai. de 2007

La cour, le roi et la revolution

Ai ai.

Tenho que escrever um pequeno texto sobre a corte de Versalhes. Mas é pequeno MESMO. Três mil caracteres com espaços. Meu esboço está com 3100... É, não vai ser tão fácil quanto eu pensei.

Anyway, estive pensando: vale a pena escrever por nada? Quer dizer, nesse país não se pode pensar em ganhar dinheiro escrevendo. Pode vir a acontecer, mas não é certo, so... Melhor não criar falsas esperanças.

Então, a gente escreve para ter um único retorno: o do público. Ok, eu sei que esse não é o blog mais comentado do mundo. Mas de forma geral, as coisas que publico aqui e ali acabam tendo uma boa recepção e o mais importante, geram comentários, o famoso e almejado feedback.

Há, no entanto, uma exceção: para ajudar um amigo, estou colaborando com a revista de uma comunidade no Orkut. Escrevo a parte cultural, um conto e na última edição coloquei uma crônica. Até agora, foram 4 edições... e se recebi dois elogios (porque há diferença entre comentário e elogio) foi muito. Ok, talvez eu esteja exigindo muito de uma comunidade de pegação e de interação social para pessoas fora do padrão social de beleza vigente (i.é, gord@s) . Só que pra mim, crônica é algo novo. Realmente difícil... pedi na comunidade para que as pessoas falassem o que acharam.

Silêncio sepulcral.

Nada. Nem uma linha.

Pergunto-me: valhe a pena isso? Porque escrever 'por encomenda' nunca é fácil. É sempre algo não espontâneo.

Estou começando a pensar seriamente em não insistir. Escrever só para preencher 'páginas virtuais' não está nas minhas perspectivas. Se ninguém comenta nada, é porque ou não quiseram ler (e daí estou tendo trabalho por nada) ou leram e não se incomodaram com aquilo, nem no bom nem no mau sentido. Se é assim, novamente: escrever pra que?

Enfim....

12 de mai. de 2007

Alguns comentários

- O Marco Bourguignon, editor da Scarium e pai do Thiago, colocou uma nota chamando para lerem o 'Chiaroscuro', o que aumentou consideravelmente o número de visitas daqui. Merci beacoup ao Marco e a Scarium como um todo, que vem me incentivando e publicando.
- Para minha grande surpresa, o pequeno, curto e anedotico conto publicado no site do CLFC, O Homem-bomba, é o segundo mais visitado, com mais de 230 visitas. Só me resta agradecer a quem leu, gostou e aos três comentários...:)
- Anyway, tenho muita coisa pra ler. Dormir? O que é isso?
- Meu filho chegou na parte das perguntas difíceis. Ontem mesmo me perguntou o que eram bala perdida, corrupção e política... Deuses, cadê as perguntas sobre sexo?

7 de mai. de 2007

Chiaroscuro

(Chiaroscuro é o estilo de pintura do final do Renascimento e do Barroco que valoriza do jogo de contrastes entre luz e sombra)

A meio-elfa andava confiante pela floresta. Conhecia todos os caminhos e todas as trilhas. Reconhecia os pássaros pelo canto, as árvores pelo cheiro. A temperatura era tão agradável que, apesar do inverno, podia se enganar achando que a primavera havia chegado mais cedo.
Nem parecia que essa excursão era para aprender certas artes mágicas obscuras que lhe foram negadas por seus ancestrais e que ela precisaria para poder vingar aqueles que amava.
Caminhou, a cabeça erguida. Ela iria quebrar a regra que proibia o ensino da Necromancia para aqueles que tinham sangue mestiço.


Escuridão. Calor. Um útero primordial, feito de quentura e negrume, envolto em caos organizado.
Consciências que deslizam, unindo-se brevemente. Tocam pensamentos alheios, partilham as experiências de seu mundo escuro e calmo.
No Plano Sombrio, existem poucas regras. Talvez só uma realmente importe.
Não tocar. Jamais encostar a sua consciência em algo que não seja da matéria negra e fluida, morna, tranqüila e imutável que é a sombra.


Quando chegou ao lugar certo para a invocação, a noite já se aproximava. Não havia mais luz solar, o mundo paralisara-se naquele estranho tempo que não existe, entre o dia e a noite. O crepúsculo iria lhe dar tempo suficiente para preparar o encantamento necessário.
Armou o pequeno acampamento. Despiu-se completamente, tentando ignorar o frio que arrepiava a pele nua. Armou-se com a adaga de prata e caminhou determinada até a pedra negra em forma de porta, localizada no meio da clareira.
Começou a cantar.


Contato, afastamento. Fluidez, escuridão. Sombra não tinha consciência de há quanto tempo vivia na plenitude do seu plano.
Um fisgão, algo incompreensível. Estava sendo puxado, arrancado, expulso do útero sombrio que habitava desde sempre.
Não gritou por desconhecer a utilidade do som. Na massa negra do Plano Sombrio, um pequeno buraco formou-se onde Sombra estivera, preenchido lentamente pela constante fluidez da escuridão.


A canção terminou no momento em que a realidade gritou. O rasgo-fenda fechou-se sobre si mesmo. Ela não via isso, apenas sentia, os olhos fechados, concentrada no encantamento que fazia pela primeira vez. Quando o último som extinguiu-se, teve coragem para abrir os olhos, a clareira estava tomada por uma escuridão informe, e um calor difuso.
Fortalecendo a voz, comandou.
- Tome forma, ó Sombra que conjurei, e atenda meu pedido.
O manto negro concentrou-se a sua frente, ela conseguiu ver novamente na luz fraca das estrelas da noite sem luar.


Mesmo aquela claridade tão mínima incomodava Sombra. A ordem da criatura pálida a sua frente era irresistível, e ele não tinha como desobedecer. Tomou uma forma levemente parecida com a daquele vulto branco, tentando entender o que estava acontecendo. Ninguém nos seus contatos primordiais havia explicado-comentado aquilo.
Para obedecer a segunda ordem, quebrou a única regra que conhecia. Estendeu sua massa escura e tocou a consciência/corpo daquele estranho ser.


Choque. Dor. Confusão. Espanto. Espasmo. Orgasmo.
As sensações percorriam os dois corpos.
Tremiam, ela na maciez sólida da carne. Sombra ondulava, a fluidez sombria parecendo água agitada pelo vento.
Tornaram-se um só.

Assim começou o longo aprendizado da meio-elfa.


Por meses, sua residência foi aquela clareira. Os dias pouco importavam, pois as sombras só podiam existir a noite. Gradativamente, o conhecimento da manipulação de tudo o que é contrário à luz e ao sol foi se tornando seu, e ela mudava. Seus olhos tornavam-se mais frios, mais calmos, parados.
Sombra também mudara. A forma humanóide já lhe era confortável e aprendera a responder aos pedidos e estímulos da criatura tão pálida.
Uma noite, a moça falou:
- Ó Sombra, me ensine a magia mais mortal, a Palavra que mata.
Um sibilo, sussurro sombrio e sinistro, surgiu da Sombra.
- Para... que?
Sentiu um sobressalto.
- Você... fala?
- Sim. Aprendi. Vezes. Toquei. Sua mente. Para que?
Punhos cerrados e olhos enevoados, ela respondeu.
- Para matar os que mataram os meus.
As estrelas sumiram, e a escuridão pareceu emanar de Sombra.
- Ensina. Somente se. Entregue-se.
Sombra havia tocado a consciência e a inconsciência da mestiça.Aprendera sua língua, padrões de comportamento. E também absorvera paixões, desejos, sensações desconhecidas. O tempo de aprendizado se esgotava, em breve voltaria ao caos de onde emergira. E precisava saber.
Ela hesitou por instantes. Mas não durou muito sua hesitação.Abriu os braços e deixou cair o manto que a envolvia.
Ficou ali parada, imóvel. Esperando que a sombra a envolvesse, como seu calor inesperado. A imagem sensorial que tinha associado ao negrume era a do frio congelante da noite. Mas o toque daquela Sombra era diferente. Tinha calor, e a consistência de algo fluído, a prendendo em um abraço que parecia eterno.
Ouviu a voz que soprou em seu ouvido, sentiu o hálito fresco da criatura, vinda de um outro plano, atendendo seu chamado. Sabia ser proibido o contato físico com seres extra-planares, mas como podia recusar?
Pendeu a cabeça para trás, olhos fechados, apenas sentindo o êxtase e a agonia que acompanhavam cada toque do amante sombrio que escolhera para si. Acompanhava o rastro de calor do caminho que a matéria escura percorria na pele clara, arrepiada de prazer. Gemia alto quando uma parte mais sensível do seu corpo era tocada.
Estava imersa nas sensações.
Sombra sabia, pelo contato com a consciência, o que daria prazer à criatura alva que estava ali, nos seus braços. Mas não podia esperar pelo próprio êxtase, pelas estranhas ondas que tremulavam em sua matéria ao roçar na pele.
A tensão crescia. Algo deveria acontecer; Sombra desistiu de sua forma humanóide, e na sua consistência fluida, cobriu toda a mulher, tocando-a totalmente, em todo o corpo. Abafou seus gemidos, penetrou em seu corpo, tornaram-se um.


Ela acordou sozinha, nua, no meio da clareira. Não havia sinal de nada do que acontecera. Perguntou-se se não teria sido apenas um sonho. Apenas a memória de um novo feitiço dizia que não.
Sentiu-se triste, como se perdesse algo para nunca mais recuperar. Abraçou seus próprios ombros e permitiu-se um momento de nostalgia, lembrando do toque quente e leve do ser que invocara.
Mas o momento passou, e ela seguiu em seu caminho.


Escuridão, caos. Rigidez, deformação. Regras foram quebradas.
Toque em criaturas de pele. Profanação!
A sempre tranqüila massa escura do Plano Sombrio agitava-se, convulsiva, ao sentir na sua consciência o que Sombra fizera.
Não foi punido por não existirem castigos ali.
E mesmo que tivesse sido, para ele valeria a pena. Tornou-se exceção, Sombra que sentia. Treva que poderia um dia seguir aquela a quem tocara.

2 de mai. de 2007

Scarium no. 19

Estou em dose dupla na Scarium Megazine, especial FC Pulp:

http://www.scarium.com.br/dezenove.html

Para começarmos, temos a bela capa do Emir Ribeiro que lembra as antigas revistas pulps e para marcamos bem o número demos o nome desta edição de Scarium Pulp.
Os artigos e colunas ficaram a cargo de: Edgar Smaniotto, resenha do livro "A Mão que Cria" de Octávio Aragão; César Silva, Fullmetal Alchemist; e Ana Cristina Rodrigues e Alexander Lancaster, com artigo que fala sobre a origem e a história dos pulps, "Ficção Científica Popular, uma visão sobre FC Pulp".

A ficção ficou por conta de Roberto de Sousa Causo, "Batalhas na Memória"; Carlos Orsi, "Terror no Planeta dos Canibais"; Max Z. Egon, "A Besta do Planeta Gernsback 5"; Ana Cristina Rodrigues, "Lentidão"; Charles Dias, "O Planetóide Pirata".

Bullet with butterfly wings

A criatura se debate ante os olhos admirados de cientistas de pele esverdeada e longos tentáculos. Agarrado às grades de sua jaula, o animal grita em agonia e raiva.

O cientista-chefe atira um pedaço de comida, e o homem, esquecido de sua tentativa de liberdade, corre, morto de fome.

Apesar de toda a nossa raiva, somos apenas ratos em uma gaiola.