30 de jun. de 2007

Os loucos de Lisboa - Ruy Veloso e Ala dos Namorados

Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia.
Deixamos de tributo a quem lá pára,
Um louco a fazer-lhe companhia.

Sempre a mesma posse, o mesmo olhar.
De quem não mede os dias que vagueiam
Sentado lá continua a cravar
Beijinhos às meninas que passeiam.

São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar.
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar.

Notícias

- Na edição especial de 'Desvendando a História' de julho sobre as Revoluções, tem um box meu sobre a Corte de Versalhes. Já recebi o pedido de uma nova colaboração, sobre Júlio Cesar.

- O Homem Bomba tornou-se o conto mais visitado do site do CLFC

- A resenha sobre MonteCristo já está entre as cinco mais lidas do site

- E a Dama de Shalott foi o terceiro conto mais visitado de março no Hyperfan

A todos, de coração, meu muito obrigada.

16 de jun. de 2007

11 de jun. de 2007

Out of order.

O doce para qual você ligou encontra-se fora da área de cobertura e não sabe quando nem se volta.

Boa sorte na sua próxima tentativa.

4 de jun. de 2007

Uma crônica

O que sobrou do céu

Para P. H.


Vocês realmente já olharam as estrelas?

E não adianta dizer que todas as noites, do alto da janela do seu apartamento no meio do Rio de Janeiro – ou qualquer grande cidade, não importa – empinam os narizes no ar cheio de fumaça e vêem uma meia dúzia de pontinhos piscando atrás do fog-smog nosso de cada noite. Isso, meus caros, não é olhar estrelas, é apenas entrever um pedacinho mínimo de sua beleza.

Falo de realmente ver estrelas. De parar, olhar para cima e perceber que o céu é realmente da cor do veludo negro e que aquele monte de pontinhos brilhantes não podem ser outra coisa senão pequenos diamantes bordados naquele tecido quase cremoso por artesãos mais habilidosos do que os nossos. De conseguir perceber o enfumaçado das nebulosas, de conseguir desenhar as constelações, de se perder no emaranhado daquelas luzes que estão tão distantes que toda uma vida não seria suficiente para alcançá-las.

Pois é, perdemos o céu, principalmente o noturno. De dia, a luz ainda consegue ultrapassar as barreiras de fumaça e poluentes, o sol força sua entrada e por entre prédios e avenidas, conseguimos ver o que sobrou do céu.

Porém, a noite nos foi roubada. O céu estrelado, aquele manto negro que tanto assustou aqueles que vieram antes de nós, é um grande desconhecido. Mal o conseguimos entrever, ofuscados que estamos por luzes, letreiros, faróis... E por nós mesmos.

Para ver esse céu, é preciso sair da agitação que nos cerca, nas vidas sem tempo. Afastar-se de tudo o que conhecemos, deixar para trás tarefas que clamam por nós, obrigações, deveres, elos. É tentar não sermos mais nós mesmos. Buscar algo que está há muito tempo adormecido, esquecido, quase morto. Precisamos escarafunchar dentro de nós mesmos memórias ancestrais, do tempo em que tínhamos medo e reverenciávamos a sombra e a escuridão.

Porque para poder realmente olhar as estrelas temos que lembrar que somos feitos da mesma matéria sideral que aquelas imensas bolas de gás penduradas no cosmo. E que nem sempre a escuridão é a ausência de luz. Que somos maiores que nossas agendas, compromissos, direitos civis. Somos mais do que nossas filiações, nossas vontades, até mesmo que nossos quereres.

Que ultrapassamos mesmo a soma de tudo isso, mais nossos amores, amigos e famílias, com nossas recordações, ganhos, perdas, lucros, sucessos e fracassos.

Para ver estrelas, você às vezes precisa fazer uma loucura. No meu caso, voar dois mil quilômetros, em direção ao centro do país, para encontrar alguém que nunca vi pessoalmente. Superar um trauma absurdo e andar de moto, coisa que jurei jamais fazer. Confessar segredos a uma pessoa que ao mesmo tempo que é um conhecido de pouco tempo, tive certeza que é um amigo de muitas e muitas vidas.

Em cima de uma ponte, no meio do Brasil, ouvindo o choro de um rio represado, eu finalmente olhei para cima e vi estrelas. Por um segundo, não compreendi o que se passava, até que meus olhos conseguiram captar toda a beleza e a majestosidade do céu estrelado. Não consegui sequer chorar ante tanta grandeza.

Mas lembrei do que sou feita, do que fui feita, aliás. Afinal, de uma forma ou de outra, também somos todos estrelas, apesar de termos perdido o céu.