25 de jun. de 2004

Alma minha gentil que não partistes...

Um dia me perguntaram se eu acreditava em almas gêmeas. Não pude evitar pensar em você, e responder que não tinha tido a escolha de acreditar ou não. Pois desde que você cruzou meu caminho, tive a certeza de que haviamos nos conhecido antes, em algum lugar.

Não que tenha sido “amor a primeira vista”. Não, nada disso. Lembro muito bem. Eu te chamava de “paraíba metido”, você me chamava de “bruxa”. Isso porque a gente mal se falava. Eu passava por você resmungando, ao que me respondia, me chamando de bruxa na cara-de-pau.

Não lembro porque começamos a nos falar. Busquei em todas as gavetinhas das minhas recordações. Mas deve ter sido pela pura e simples vontade. E também não sei quando foi que me apaixonei. Me dei conta quando comecei a odiar os dias em que eu sabia que não ia ver você, e a contar as horas.

Mas me lembro do dia em que soube que você, a sua maneira, retribuia. Como ia esquecer... foi a primeira vez que meu coração se quebrou. E talvez esteja quebrado até hoje. Pois foi quando nos separamos. A culpa foi minha, foi sua. Foi do Destino? Sei que a tristeza nos seus olhos refletia a minha própria. E aí eu soube. Tão tarde. Não que fosse adiantar saber antes.

Chorei. Noites inteiras. Ninguém percebeu. Pois ninguém podia perceber, ninguém iria entender...ninguém iria me desculpar, ou então, pior, ia julgar criancice. Coisas de adolescente e que tais.

E assim foi. Tentei esquecer você. E sempre que estou quase conseguindo, vem o mundo e lembra. O seu cheiro, que surge do nada, no meio da noite, saído das minhas recordações só para me assombrar. Alguém com a voz parecida, com o seu jeito...

E vi você doente. Segurei a sua mão, e olhei nos seus olhos, e senti que era a última vez. Quando me disseram que você tinha morrido, foi como se eu tivesse morrido junto. Não me disseram onde enterraram o seu corpo, não me permitiram me despedir. Mas não importa. Fechei meu coração em luto. Mesmo que os outros não percebessem, mesmo que eu estivesse rindo e namorando...meu interior sangrava.

Mas com o tempo, me acostumei a viver sem um pedaço de mim. A saber que seria incompleta para sempre. Mas mesmo assim, segui minha vida. Tive um filho, fiz amigos, me formei no que sempre quis. E você que nunca acreditou que eu realmente quisesse ser professora...

E você está vivo. Mentiram para mim. Você esta vivo, e bem. Não sei se solteiro. Não sei se sentiu minha falta. Encontraram você na rua. Só me disseram isso. Não falaram se você perguntou por mim, não falaram sequer aonde...Só isso: “encontrei Fulano na rua”.

Mas mesmo assim, fiquei tão feliz. Pareceu que o mundo abriu-se de repente. Que tudo era novo. Que eu voltara a ter quinze anos...

Não que eu ache que vamos nos encontrar de novo um dia e sermos felizes para sempre. Não. Sempre soube que não era para ser. Mas alma gêmea quer dizer outra coisa. Afinal, por mais diferentes que sejamos, por tudo o que nos separa...mesmo assim. Não tem jeito. Estou fadada a amar você, nessa e em todas as vidas.