13 de dez. de 2005

Cerejeira

Depois da guerra, nada sobrou. Ando por minha cidade procurando um sinal de vida, uma cor diferente do cinza de chumbo do inverno atômico que já dura dois anos.

Sem perceber, chego ao Jardim Municipal. Lá, no meio das outras árvores, rainha sem reino, está nossa cerejeira. Onde gravamos nossas iniciais, em algum dia de uma primavera que não mais voltará.

Pois você morreu no primeiro ataque dos invasores, na frente de batalha, queimado até não sobrar nada. E da cerejeira, sobrou o tronco. Onde estão as folhas verdes e brilhantes? Perdidas em um verão pretérito.

Encosto a cabeça na árvore e me deixo cair ao chão, qual folha nas manhãs de outono de minha lembrança.