4 de out. de 2007

Ponteiros


“O ponteiro pequeno marca a hora. O grande, os minutos.”

A mãe repetira incansável por anos a fio, tentando ensinar a criança que todos diziam ser lenta demais para aprender.

E a cada vez que dizia, o estapeava. “Pra aprender mais rápido”.

Ele aprendeu. Apanhou. Sofreu. Foi humilhado.

Mas aprendeu.

Olhou o relógio no pulso da mãe.

Limpou o sangue que secara no mostrador.

O ponteiro pequeno no dois, o grande no doze. Parado, marcando duas da manhã, a hora em que a matara.

Arrancou o relógio, jogou-o no chão.

Descarregou as balas restantes no aparelho. Nunca mais olharia um relógio.