5 de out. de 2004

Quem inventou o amor?

O anúncio foi veiculado em todas as grandes redes de notícias. “Quem inventou o amor? Recompensa-se quem o achar!” Muitos pensaram que se tratasse apenas de um golpe publicitário, divulgando um novo produto erótico, ou o lançamento de um disco de canções melosas. A grande maioria não levou a sério.
Os outdoors já estavam envelhecidos, o jingle da campanha há muito ficara na memória dos mais velhos, quando aconteceu um fato surpreendente. Uma jovem alegava conhecer aquele que inventara o amor.
Foi imediatamente entrevistada por uma grande rede de televisão.
- É verdade que você alega conhecer o inventor do Amor?
- Sim, eu mesma. E por favor, é amor, sem maiúscula.
- Por que?
- Porque ele me disse que era assim. Com maiúscula, Amor fica parecendo uma coisa transcendental, fora da nossa realidade. E ele me disse que é a coisa mais comum da vida de todos nós.
- Conte-nos como foi.
- Eu estava em casa, sozinha, vendo televisão. Bateram na porta. Quando eu abri, ele estava lá.
- Ele quem?
- O amor. Você nunca o viu?
- Como assim? Como ele era?
- Ué, como qualquer amor. Ele era simples e complicado, egoísta e generoso, belo e feio, delicioso e repugnante...todo o amor não é assim?
- Assim como?
- Paradoxal, né? Aquele poeta português já dizia que é o vencedor servir ao vencido, lembra? Pois então. Ele é a derrota da vitória e a vitória da derrota.
- E o que ele queria com você?
- O de sempre, né? Queria se instalar, tornar minha vida uma bagunça...Eu recusei, disse que “não, muito obrigada, mas estou feliz assim”. Mas sabe que o bandido nem ligou? Ele disse que no fundo eu queria. E ele estava certo...
- E ele contou quem inventou o amor? - Quando eu perguntei, ele simplesmente sorriu, se levantou e me deu um beijo no rosto. Me disse que o inventor do amor estava mais próximo do que eu poderia imaginar. Sabe, até hoje não sei o que ele quis dizer com isso...