12 de jun. de 2005

Chuva de Cinzas

inspirado em uma música do Eurithimics

A chuva cai como uma memória. Os raios de sol já se apagaram há muitos anos, e a desolação que me cerca já não incomoda mais. Ando em frente, ignorando os escombros que entrevejo aqui e ali. Faz dias que não vejo nada nem ninguém vivo, mas pouco me importo. Estou viva, e para mim basta.

Caos e guerra destruíram tudo o que conhecia. Lembro de que fui jovem um dia, e que havia felicidade na dureza da vida. Não mais, não mais. Agora, se soltar um grito, nada nem ninguém irá me responder. Somente o eco triste de minha própria voz refletida nas ruínas de uma sociedade doente. Antes, escavávamos resquícios dos que vieram antes de nós. Deixamos todos os indícios para serem descobertos, mas de onde sairão os arqueólogos que irão nós desvendar?

Continuo meu andar solitário. Não sei onde estou, porém o que importa? Os nomes desapareceram junto com aqueles que lhes davam significado. Tampouco lembro do meu próprio. Sei que já tive um, que era repetido por pessoas que me amavam.

Isso foi antes. O agora é cinza e eu prossigo. Minha viagem não tem rumo, nem sentido. Foi apenas o que me restou, e é isso que sigo fazendo.