As pequenas gotas de Júpiter (Mini Musical)
Base Estelar Luna 1 – Aposentos 1145 – KM
25 de Abril de 2125, 50o. Da Exploração
Julian,
Meu querido amigo…
Recebi sua última comunicação. Estou feliz por saber que decidiu casar-se com Alanna. Sinceramente. Acho que você tinha toda a razão. Ainda gosto...não, ainda amo você, como naquele dia em que nos despedimos na Base Estelar, quando finalmente confessei meus sentimentos e a minha vontade de ser sua mulher. Você disse que também gostava de mim, mas a distância entre a Terra e Júpiter impediria, que não deveriamos canalizar sentimentos em rótulos. Quando eu voltasse, veriamos.
E agora estou de volta à atmosfera artificial da Base, depois de ter ido às luas de Júpiter. Foi uma viagem longa, onde conheci minha alma. Onde eu vi o que tinha perdido.
Não poderia imaginar uma vida sem galinha frita nos imensos baldes que dividiamos nos sábados a tarde, na frente da holo-visão. Ou em que não existissem nossas conversas de cinco horas de holo-fone, quando você foi estudar Tecnologia Espacial, e aquele café com leite de soja na Cafeteria da sua universidade, o melhor latte que eu já tive...Em que não tivessemos dançado juntos pela primeira vez, no final dos Estudos Elementares.
Sem amor, orgulho...ou meu melhor amigo, sempre ao meu lado, mesmo sabendo que eu estava errada.
E ela existe. Não vale o esforço, mas existe.
Os ventos de Júpiter tiraram-me dos meus pés. Flutuei por longos minutos, dançando no dia difuso formado pela claridade de suas luas. Minha cabeça voltada para a Via Láctea, naveguei por detrás do Sol, vi as luzes que se apagavam. E você estava certo. O céu é superestimado.
Não, não acho que você seja um covarde, com tanto medo de voar que jamais se atreveria a pousar e depois decolar de novo. Você fez a escolha certa. Para que uns possam ir, outros precisam ficar no solo.
Ouvi durante toda a viagem o holo-disco com obras escolhidas de Mozart...lembrando de você. E vou responder as suas duas últimas perguntas.
Senti sua falta, lá fora, procurando por mim mesma... A sua ausência fez-me perceber o quanto eu estava sozinha... o quanto eu precisava de você.
Quinze anos. E ainda lembro do seu sorriso quando voltei do treinamento na Lua, dizendo que eu havia trocado as estações, agindo como o Verão, caminhando como a chuva... ouvindo como a Primavera e falando como Junho.
Dentro de uma semana, iremos partir para a Nuvem de Magalhães. Uma nova galáxia, onde eu poderei dançar de novo. Amo mover o corpo com a música, pois cada passo traz um pouco do que vivemos de volta para mim, do momento da primeira dança e do único beijo. Que carregarei comigo para outra galáxia comigo, junto com as gotas de Júpiter que trouxe como presente...e prova do meu amor.
Porém, agora tem a Alanna. E digo. Sejam felizes. Sempre que eu olhar na direção do Sol, pensarei em vocês.
Sempre sua,
Karmina.
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