15 de fev. de 2006

O vermelho do teu sangue...


Texto curto, um mini, que entra aqui para comemorar. Cris e Gab, meus caça-vampiros, estarão no número 15 da revista Scarium, especial sobre os chupadores de sangue. :D Esse texto foi feito como parte do concurso de Mini Visuais da Fábrica de Sonhos, sobre a figura desse post. Semana que vem, posto mais um mini dos dois. Obrigada aos meus leitores e fãs.:)

O vermelho do teu sangue...


- Duvido.

- Cris, não enche.

- Nem tenta desconversar. Eu duvidooooo.

- Como você acha que é possível uma tocaia se você não se cala?

- Olha só, estamos aqui há duas semanas e nada acontece. Não tem vampiros naquele bar. Ponto. Como eu dizia, duvido que você não tenha pensado pelo menos uma única vez em largar isso tudo. Desistir de ser um monge caçador de vampiros, voltar pro Brasil, casar e ter um monte de filhos chatos como você.

- Uma única vez.

- Conta. Vou até me ajeitar melhor.

- Quando éramos recém-chegados ao Vaticano, você foi levada para o treinamento básico e eu para o de campo. O pároco de uma aldeia, na fronteira da Itália com a França, estava suspeitando de um culto vampírico. Nada de muito sério ou científico. Apenas alguns indíciosmeio furados. Pedras manchadas de sangue em clareiras. O monge que me treinava pensava ser apenas coincidência e para me acostumar às vigílias, mandou que eu passasse a noite em uma das clareiras.

- Quem era?

- Frei Marc Dalamano, você não o conheceu. Bom, morrendo de medo eu obedeci. Fiquei na clareira, esperando quase até o amanhecer. Foi quando tudo aconteceu... Eles chegaram, carregando uma moça desmaiada, vestida de vermelho...

- Eles quem?

- Até hoje, não sei. Deixaram-na no meio da clareira, ainda desacordada... sobre cada uma das pedras ao redor, um cálice de um líquido vermelho...

- Que provavelmente não era vinho.

- Quem está contando a história? Obrigado. Bem, depois de um tempo, algo estranho aconteceu.

- Jura?

- Cris...

- Tá, desculpa.

- A moça acordou, parecendo desnorteada. Seus olhos eram azuis, como...ah, como uma imagem batida dessas que você conhece melhor do que eu. Tão pequena, tão frágil, tão doce... Naquele instante, eu desisti de tudo. Por ela.

- Ah, que mei... desculpa.

- Bom, fui até a clareira. Ao me ver, a menina abriu um lindo sorriso. E me pegou pelas mãos, começando a dançar comigo. Giramos alegres sobre a luz da lua, como duas crianças... até que eu ouvi um tiro. Frei Dalamano estava com a arma especial, com balas benzidas. Um buraco minava sangue bem no meio da testa dela. Vermelho, tão vermelho... Comecei a gritar com o meu mestre, que não respondeu. Só apontou para chão ao meu redor. Os cálices haviam quebrado, sem que nada os tocasse. E o sangue espalhou-se, formando símbolos que mais tarde eu soube que estavam preparando um portal para trazer mais criaturas malignas às custas da minha alma. O pároco era o líder do culto, como meu mestre havia descoberto. E a doce menina por quem quis abandonar tudo...

- Era uma súcubo...

- Exato.

Silêncio.

- Gab, você está chorando?

- Não, é a umidade do ar... veja, está amanhecendo. Vamos voltar para o hotel.