20 de fev. de 2006

Suave é...

(Mais dos caçadores que serão parte da edição especial da http://www.scarium.com.br sobre vampiros. Outro mini, dessa vez relacionado à uma música do Capital Inicial, "Belos e Malditos". Faz parte de uma história maior, ainda incompleta. Presente de aniversário pra Camila, a dama da noite.:) )
Cris olhou para Gab. Mais uma noite em Nova Orléans, mais um bar. Dois meses percorrendo a cidade, quarteirão por quarteirão, buscando a resposta para o pedaço de pergaminho. As palavras em copta, “Preparar...ritual...sangue...imortal”, não faziam sentido. Ela era uma das mais competentes tradutoras dessa língua e chegara a um beco sem saída.

-Explica de novo porque procuramos os responsáveis pelo papiro nos bares?

Com um gesto impaciente, apagou o cigarro antes de responder.

-Tudo o que o bispo nos disse é que o PERGAMINHO foi encontrado nos bolsos de um bêbado, que teve uma síncope na frente de uma delegacia. O histórico dele na Polícia é de ser um ladrão barato de bares.

A explicação não satisfez o monge, que continuou com a cara fechada. Cris deu um muxoxo e entrou no bar. A atmosfera era pesada, olhos direcionados para os estranhos. Vestidos de negro, capas escondendo armas, como anjos belos, e ao mesmo tempo malditos.

A moça aproximou-se do balcão. Pediu uma coca, enquanto o seu acompanhante bebeu água. Em um quarto de hora, todos os freqüentadores do bar rodeavam os agentes da Igreja. Um deles falou, a face retorcida.

-Vocês não são bem-vindos aqui, caça-bruxas miseráveis.

Sem interromper-se, Cris apenas o olhou. Terminou a cerveja, limpou a boca.

-Você está enganado, cara. Não somos caça-bruxas.

Uma gargalhada rouca ecoou.

-Eu vivo fugindo de gente da sua laia há séculos, idiota...Acha que pode me enganar?

Um gesto ágil, a mulher sacou uma arma. Atirou antes que qualquer um pudesse fazer algo.

-Eu caço vampiros, seu imbecil. – o corpo do seu interlocutor estava no chão, uma estaca fina de madeira atravessada no seu coração. – E você pode estar fugindo há séculos, mas não conhecia esse lança-estacas de bolso.

Todos no bar transfiguraram-se. Alguns eram chupadores de sangues. Outros, ela não conseguiu identificar. Talvez algum inocente estivesse perdido ali. Nenhum dos dois caçadores importou-se com isso. Gab usou sua espada para decepar dois, e com rituais mágicos explodiu mais três. Cris mirou sua arma com precisão.

Em pouco tempo, só restavam eles e o barman. Este não se movera durante a briga. Gab falou.

-E você?

-Sou apenas o barman.

-Conhece isso aqui?

Mostrou o pergaminho. Ele assentiu.

-Sim, conheço. O dono é um feiticeiro vodu que costumava aparecer por aqui, mas sumiu. Este é o endereço dele. – anotou em um guardanapo.

Na porta do bar, Cris tirou uma granada explosiva e arremessou para dentro do ambiente.

-Cris...eles podiam ser inocentes...

-Não são. Foram feitos apenas para sentir prazer.

-Será que não podíamos ao menos poupar o barman?

-Sem testemunhas, Gab. Você sabe disso. O fogo purifica...

-Mas isso é mal.

-Às vezes, algum bem sai do mal. Bem-vindo ao lado escuro do Paraíso.

E seguiram até o carro, iluminados pelas chamas do bar. Anjos da Igreja, caçadores de vampiros, feitos de carne e pecados a serem expiados pela missão sagrada.

O mal que vem da vontade de fazer o bem.