26 de ago. de 2007

Um gostinho de Finisterra

(Estou escrevendo -well, tentando escrever - um romance de 'fantasia-história-alternativa-valsa-do-lusitano-pancada' intitulado Finisterra. Até agora, escrevi uns dois capítulos e mais uns trechos esparsos. Abaixo, uma sinopse-teaser-propaganda e um trechinho do que será um dia o quinto capítulo)
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Finisterra – Histórias do Império que poderia ter sido.

Um período de calma atravessa o Grande Continente. Os povos do Norte não mais ameaçam as fronteiras do Danu. A paz finalmente foi firmada entre Albion, Francia e Burgúndia. Porém, do confim ainda desconhecido do mundo, uma ameaça surge.

Os Corte-Real, eminentes navegadores a serviço de Dom Manuel, partiram em expedição ao misterioso fim do mundo. Mas não retornaram. Anos depois, uma mensagem é encontrada, com um aviso dos irmãos: os habitantes de onde o mar acaba querem tomar para si as terras do Grande Continente.

Como Imperador da Ibéria Lusitânia, cabe a D. Manuel resgatar seus súditos e impedir essa terrível invasão. Para isso reúne uma imponente esquadra, composta por homens dos diversos reinos.

E como todo o grande feito precisa ser lembrado, o cronista-mor do Império, Rui de Pina, é enviado nessa expedição, junto com seu assistente, Pero de Caminha. Por missão, ambos devem retratar as glórias e as aventuras dessa esquadra. Mesmo a custo de sua própria vida.
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Foi a voz de Nimue que deu o alarme.

- Comandante, uma criatura vinda de Ocidente!

Rui, assim como os outros, virou para olhar na direção indicada. Embaixador calejado, não estranhava quase nada. Na verdade, já esquecera da última vez em que algo lhe causara estranhamento. Nem mesmo as mais fantásticas maravilhas afetavam tanto o seu coração a ponto de tirar o ar do cronista. Já vira sereias, licantropos, harpias, dragões, dragonetes, cavalos alados e de chifres, entre muitas outras criaturas.

Porém, a sua frente erguia-se uma criatura horrenda. Saiu da nuvem de escuridão que tinham visto no horizonte e aproximava-se com uma rapidez inacreditável. Seus contornos eram indefiníveis. Era escuro, pois a luz nele sumia, seu hálito chegou até a embarcação e fez com que Rui sentisse uma forte vertigem.

O monstrengo que saíra do fim do mar voou por três vezes ao redor da nau, chiando como um morcego infernal. Quando falou, sua voz pareceu querer furar os ouvidos dos presentes.

- Quem é que ousou entrar nas terras que não desvendo, meus negros tetos do fim do mundo?

Rui tremeu e escutou o comandante Cabral dizer, a voz incerta.

- Viemos a mando do glorioso Imperador D. Manuel, filho del-Rei D. João Segundo!

A sombra pestilenta não retornou para o lugar de onde viera, e novamente deu três voltas, mais próxima dessa vez. O cronista pode perceber contornos de um corpo largo, e placas de sujeira e imundícias. E outra vez, a voz incômoda ressoou.

- De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço? Quem vem poder o que só eu posso, que moro onde nunca ninguém me visse e escorro os medos do mar sem fundo?

A voz fraca de Pero elevou-se trêmula para se fazer ouvir sobre o barulho da respiração da besta voadora.

- Viemos a mando do glorioso Imperador D. Manuel, filho del-Rei D. João Segundo!
E mais ainda o monstrengo aproximou-se. Rui lembrou de algo, ensinado por Nimue no início dessa jornada. Pois que a sacerdotisa de Avalon havia lhe explicado o poder tríplice em relação a criaturas mágicas. Antes que o monstro completasse três voltas pela terceira vez, o cronista usou sua voz, treinada em diversas embaixadas.

- Nesta nau, sou mais do que eu. Pois sou um povo que quer o mar que é teu. Mais do que o mostrengo, que teme a minha alma e roda nas trevas do fim do mundo, obedeço a vontade de meu senhor. Assim iremos prosseguir, pois viemos a mando do glorioso Imperador D. Manuel, filho del-Rei D. João Segundo!

A escuridão fétida rugiu, um bramido pavoroso que gelou a alma de todos. Abriu suas asas de negrume e podridão, avançando em direção à pequena nau.