27 de abr. de 2007

Fim da dor

Anos passaram sem que Antônio voltasse do mar sem fim. Maria de Fátima, envolta em tecidos negros, chorava seu luto olhando o azul interminável até doer a vista.

Na tempestade que arrasara tantos navios, apenas Antônio jamais fora encontrado. Nem seu corpo.

Por isso, olhava o mar, fio de esperança que corria em sua alma.

Quando viu a silhueta tão conhecida erguer-se na água, sorriu. Não reparou que a pele pendia, que as órbitas eram buracos vazios, que os cabelos eram algas amareladas.

Enquanto corria para abraçá-lo, mesmo sentindo o fedor da podridão, só pensava em como era bom tê-lo de volta.