Fim da dor
Anos passaram sem que Antônio voltasse do mar sem fim. Maria de Fátima, envolta em tecidos negros, chorava seu luto olhando o azul interminável até doer a vista.
Na tempestade que arrasara tantos navios, apenas Antônio jamais fora encontrado. Nem seu corpo.
Por isso, olhava o mar, fio de esperança que corria em sua alma.
Quando viu a silhueta tão conhecida erguer-se na água, sorriu. Não reparou que a pele pendia, que as órbitas eram buracos vazios, que os cabelos eram algas amareladas.
Enquanto corria para abraçá-lo, mesmo sentindo o fedor da podridão, só pensava em como era bom tê-lo de volta.
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